sexta-feira, 15 de abril de 2011

“A culpa é da Sociedade”

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”, assim é como ficou conhecida a notícia de que um jovem invadiu uma escola onde antes estudara e atirou, sem motivo aparente, contra os alunos, matando 12 crianças e em seguida atirando contra sua própria cabeça.

As reações a chacina na escola no Realengo são inúmeras, intensas e distintas. Alguns se colocam no lugar dos pais das vítimas, no das próprias vítimas e também no lugar do assassino, outras sentem raiva, revolta, indignação com a sociedade e ou com Deus... Procuram culpados onde só vejo vítimas.

Constatei sobre as típicas reações brasileiras em relação a esse evento, e muitos outros casos que a mídia já sugou até a ultima gota de sangue. Como as pessoas se solidarizam com a dor do outro. Daí vem meu questionamento. Como se aplica pragmaticamente uma moral nos “tempos do cada um por si e Deus por todos”?

Sendo o ser humano egoísta por natureza como disse Kant, qual a vantagem em se por no lugar dessas pessoas? Chorar, sofrer e se indignar... A frase “podiam ser minhas filhas ou as suas” sai das bocas alheias quase que em coro. A quem queira dar uma de psicólogo, estudando a carta do assassino numa reflexão psico-sociológica, concluindo que o mesmo foi mais uma vítima da sociedade instauradora de padrões, do bulling ou sabe se lá do que mais. A quem apele pra Deus e o fim dos tempos. Mas com toda certeza tomar a dor alheia é o papel mais significativo do brasileiro comodista de outrora.

Parece uma autoafirmação de ego, com a qual os brasileiros se sentem um pouco melhores por não fazer nada em relação a coisa alguma. Sentir pena é atitude nobre frente aos que tem coragem egoísta de assumir que não se afeta com o fato por não se tratar de algo íntimo e pessoal.
 Num país no qual a desigualdade é um verme que corrói as paredes da dignidade. A miséria, a má educação, o preconceito, a corrupção e acomodação entre muitas outras “tragédias” da ordem político-social parecem ser muito mais aceitáveis quando nos deveria comover e indignar severamente. Existem muitas crianças mortas pelo chão, mas essas que são maioria estão mortas de fome e de frio. 

Essa tragédia ainda tão particular em relação a esses tantos fatos permanentes no país mobiliza por demais falsos moralistas, fanáticos por desgraça alheia e por uma afirmação do apocalipse em vias de fato. Uma tragédia fabricada pela mídia sanguessuga, que incita essa onda de indignação e que tanto e tão intensamente manipula. Parece o final que os brasileiros querem ver na novela para atestar essa demagogia coletiva de que ser bom é sentir pena e tomar a dor alheia. O que não quer dizer fazer o bem.

 Fazer do sofrimento do outro ser humano um meio para auto-afirmar sua bondade. É bem contrário ao que dizia Kant na sua máxima “age de tal forma que trates a humanidade, na tua pessoa ou na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca apenas como um meio.”

Para cada ato, uma omissão. Para cada sentimento de compaixão a remissão de um “pecado”. 

Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário