domingo, 14 de julho de 2013

A TRISTE LUTA DOS VENCIDOS EM UMA COMPETIÇÃO QUE SÓ OS DE "FORA" GANHAM OS LOUROS: Um relato do submundo dos quadrinhos alternativos.

        


Já faz mais de duas décadas que venho acompanhando o mercado interno de quadrinhos em Natal e no Brasil. Principalmente, aqueles ditos alternativos. Venho com o decorrer do tempo constatando uma triste realidade, a saber, autores de quadrinhos alternativo nunca tem ou terão valor para aqueles que lê quadrinhos seja em Natal ou no Brasil, haja vista a própria valorização que damos pelos chamados desenhistas e roteiristas estrangeiros em detrimento daqueles que a duras penas produzem hqs muito boas em território nacional. Não adianta discutirmos aqui a falta de distribuição, de uma forma que represente adequadamente o nosso produto, da falta de incentivo financeiro e editorial, do amadorismo de muitos autores e etc., isso todos nós sabemos! Contudo, a dificuldade maior no meu modo de ver esta na falta de reconhecimento até mesmo daqueles que trabalham e convivem conosco. Basta ver isso nos eventos e na quantidade de pessoas que comparecem as palestras desses autores que é mínima para não dizer irrisória, uma pena, realmente. Além disso, sabemos que não há como sobreviver somente de quadrinho em Natal assim como no Brasil e isso é um fato. O que dizer, então, quando se compete com as super estrelas que residem no país, mas trabalham para fora. Principalmente, com os super heróis americanos e agora o manga! Mesmo possuindo ótimos trabalhos, em que o material desses autores alternativos não deixa nada a desejar para qualquer autor que trabalhe para fora. Pois bem, entre nós do meio alternativo, há o adágio de que se queres ser reconhecido e ter o tratamento igual aos autores que trabalham para fora tens de produzir para fora também, pois só assim terás salas cheias e reconhecimento, do contrário, continuaríamos a nos rastejar pelas sobras do anonimato e continuar vendendo nas feiras e para parentes e colegas nossos desqualificados quadrinhos underground.

Certa vez, em um evento aqui em Natal, estava lá eu com outros três na mesma mesa que "grandes" ilustradores de comics de fora estavam e que nos antecederam, quero reiterar que não tenho nada contra ninguém e nem contra eles, aliás admiro muito deles, mas o que me chamou a atenção foi simplesmente por que os mesmos por trabalham para fora possuem tratamento diferenciado, além de ter gente em pé assistindo sua palestra enquanto que, quem trabalha com HQs alternativas no país são completamente ignorados pelo leitores e por isso de termos minguadas 08 pessoas . Foi impossível de fazer uma comparação da presença massiva que nossos antecessores tinham enquanto no nosso debate tinham de 40 lugares apenas 08 cadeiras ocupadas. Não tínhamos grandes autores trabalhando para grandes, médias, pequenas ou seja o que for  Editoras de fora, pois essas são mais importante do que os autores locais e seus simplórios trabalhos. Nesse sentido seremos eternamente colonizados por nossa descriminação patente por aquilo que é produzido internamente no pais. Sei que existem exceções como a "Turma da Mônica" e etc, mas como se diz são exceções e não a considero quadrinho alternativo, por que ela já possui parâmetros parecidos com o que encontramos no mercado externo como distribuição, linha definida de títulos e etc. Ainda mais por que vende até mesmo mais do que os quadrinhos estrangeiros, nesse ponto me sinto orgulhoso de ter essa fonte de resistência, mas o que sinto falta é alternativas de leituras além dessa!

        Fico muito surpreendido quando vejo o anuncio de um evento de quadrinho e escuto e observo nomes conhecido do mercado exterior e o mais completo silêncio sobre os quadrinhos alternativos e seus autores nacionais, apesar, deles serem mencionados na programação. Fico pensando que de fato não vale a pena pô-los em destaque mesmo que produzam historias que mencionem a cidade do evento ou a cultura do seu país, pois eles não são famosos e seu quadrinho deve ser considerado tanto materialmente como narrativamente inferior graficamente.  Constato, tristemente,  que nossa leitura sempre foi subserviente ao olhar estrangeiro do outro em vez de voltarmos a olhar para nossos próprios relatos e crônicas.


      Uma outra coisa que observo nos eventos que participei é que não podemos por dois autores de HQs que trabalhem em mercados diferentes, a saber, um ilustrador que trabalha para fora e um ilustrador que trabalha internamente para dá autográfos, por que, com certeza, este último esta fadado a ficar pacientemente esperando algum incauto que não saiba que ali, do outro lado da feira, esta fulano ou beltrano que trabalha para a editora fulano de tal, do exterior. Vi algumas vezes isso acontecer!  Ainda temos as entrevistas que só procuram os quadrinistas ditos "alternativos" quando não tem ninguém com nome mais conhecido do que ele ou que nem precise ser mais conhecido, mas que baste trabalhar para uma editora qualquer de fora, que nem precisa ser das médias para logo ganhar relevância sobre um autor local.


Certa vez quando estava na Fliq do ano de 2012 escutei de um autor da Bahia e outro da Paraíba, no Evento do TOP TOP na própria Paraíba, que era muito difícil divulgar  e produzir hq no Brasil, e era um desestimulo o fazê-lo, devido a pouca divulgação e o pouco valor que se dá ao produto nacional, a nossa cultura. Imagina quando você vai a um debate em um evento de HQ e constata na realidade o valor que damos aos autores nacionais de hqs , mostrando isso através da presença do poucos  gatos pingados que vem a esse debate. Então, o que podemos fazer para  melhorar isso, e ao mesmo tempo conseguir algum tipo espaço entre os leitores brasileiros, na mídia e o respeito dos artistas que trabalham para fora. 

      Talvez a saída que encontro é começar a produzir pequenos eventos que tenham a temática apenas de quadrinhos "alternativo" ou "underground", pois poderíamos mostrar também que há alternativas possíveis de leitura que não somente o quadrinho convencional que encontramos no mercado nacional. Penso, que devemos incentivar a leitura e a produção tanto local quanto nacional para produzir hqs que tenham temas ou uma visão sobre assuntos tipicamente nacionais. Entendo, que esse discurso ainda esta no âmbito da utopia mas já é hora de encararmos essa possibilidade de frente e deixarmos de apenas achar o olhar estrangeiro mais atrativo e procurarmos, mesmo sabendo que é mais difícil e que muitas vezes  em vez de ganharmos dinheiro pagamos pela produção de nossa própria hq isso não desmerece em nada nosso trabalho, pelo contrário, nos orgulha fazê-lo e gostaria muito que esse sentimento fosse compartilhado por todos os brasileiros. Também sabemos que muitos de nós temos não trabalhamos diretamente de HQs, ou melhor, vivemos de quadrinhos, mas enquanto os artistas estrangeiros estão submissos a temáticas restritas a cultura daquele país. Imagina, temos muitos ilustradores que desenham os prédios e cenários dos EUA do que mesmo não fez em sua vida uma linha na mesma proporção de lugares e coisas de seu pais. Nisso o autor alternativo tem muito a trabalhar e quem sabe, em um futuro próximo, possa realmente encontrar um mercado mais aberto e favorável a seu olhar. Enquanto isso continuamos a trabalhar ocultamente e incognitamente nos porões dos quadrinhos, enquanto essa consciência não seja tomada.



 Saudações mil desse autor




R.M.J

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