sexta-feira, 10 de abril de 2015

REPORTAGENS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES DE HQS




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.



                                                                                                                                                                  
 MINI BIOGRAFIA:

Ivan Cabral, nasceu em Areia Branca/RN. Publica charges na imprensa do Rio Grande do Norte desde 1983. Foi chargista do Diário de Natal(Diários Associados) durante 21 anos. Hoje publica no Novo Jornal. Também é membro do Grupehq - Grupo de Pesquisa de História em Quadrinhos, entidade fundada em 1971 e em plena atividade, responsável pela publicação da revista de quadrinhos Maturi, da qual Ivan participa desde a década de 1980. Ivan é autor do personagem Mosca Zezé e já produziu ilustrações para publicidade e diversos livros. Suas charges têm sido utilizadas em livros didáticos de editoras como FTD, Saraiva, Positivo, Escala Educacional, Scipione, Opet, Fundação Padre Anchieta, Kroton Educacional, SEDIS/UFRN, COC, Poliedro, etc.
 Ivan já foi premidado em diversos salões de humor no Brasil, entre eles: UnaconDF-1997(1º lugar), Volta Redonda/RJ-1997(1º lugar), Volta Redonda/RJ-1998(1º lugar), Natal/RN-1999-(2º lugar), e diversas menções honrosas.
Ivan é Mestre em Educação pela UFRN, pesquisando a relação entre o humor gráfico e a formação do leitor. Já publicou 2 livros: Já era Collor (1991), em parceria com Cláudio Oliveira, Edmar Viana e Emanoel Amaral, e Humor Diário(2005).
Atualmente, chefia o setor de Criação e Arte da Superintendência de Comunicação da UFRN e realiza charges ao vivo durante o programa de debates Grandes Temas, da TVU/UFRN.

Fonte: http://www.ivancabral.com/p/ivan-cabral-nasceu-em-areia-brancarn.html

ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Antes de tudo, quadrinhos não é a atividade mais presente em minhas produções. Produzo quadrinhos desde a adolescência mas profissionalmente meu enfoque é o humor gráfico, em particular a charge. Mas a linguagem da charge tem um laço umbilica com os quadrinhos, em especial os quadrinhos de humor. Minhas primeiras histórias, inclusive, foram de humor. Comecei fazendo tiras e pequenas histórias, às vezes de uma página. Nunca produzi histórias médias ou longas. Como no início (falo do início da década de 1980) não havia formação técnica para roteiristas, tudo acontecia de forma autodidata. A gente lia quadrinhos e sabia desenhar. Sempre fiz roteiro e desenhos. Lia muita HQ e aquela formação informal me levava a produzir minhas próprias histórias. O convívio com a turma do Grupehq (Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos) trouxe aperfeiçoamento técnico e a troca de experiências influenciou uma maturação no traço e roteiro.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

 Naquela época os americanos reinavam soberanamente. Disney, Hana Barbera, heróis e super-herois eram o prato do dia, da semana, do mês... da vida. Mickey, Pateta, Tio Patinhas, Pato Donald e seus respectivos inimigos Mancha Negra, Bafo de Onça, Os irmãos Metralha, Maga Patalógica, e demais personagens marcaram minha geração. Tinha os que não permaneceram no auge do sucesso como Miudinho, Fantasma Lelo, Riquinho, Morcego Vermelho (pra mim um dos melhores), Brasinha e outros esquecidos. No desenho clássico impossível não citar os também clássicos Fantasma, Tarzan, Mandrake, Zorro, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Capitão América, Demolidor, Namor, Thor e outros.
Os brasileiros que heroicamente conseguiram marcar seu nome e que mais se destacaram ou repercutiram foram o Ziraldo com a Turma do Saci e o Maurício. Certamente outros artistas deram sua contribuição, mas cito esses a partir do acesso que eu tinha a seus materiais e não como uma análise mercadológica precisa.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Histórias que fizessem pensar, mesmo usando o humor. Não sou contra super-herois, por exemplo. Apenas acho que eles tem que dizer algo mais além de derreter aço com raios que saem dos olhos. Também não se trata de fazer cartilhinhas didáticas e moralistas, mas produzir algo que leve a pessoas a se questionarem. Já seria um bom começo.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

            Como falei, minhas histórias são curtas. Talvez pela influência de produzir charges, que por natureza são extremamente condensadas, sintéticas. Geralmente tenho um tema central, uma problematização qualquer, e a partir dele construo o ambiente que cerca essa questão, desenvolvo os personagens envolvidos e a trama, dando uma atenção para o desfecho. Faço isso intuitivamente e não a partir de um esboço ou esqueleto temático. Tudo começa com a ideia principal. Naturalmente a concatenação com as outras partes vai surgindo, vai sendo costurada e ajustada até se constituir uma história com um começo atraente, um desenvolvimento dinâmico e um desfecho que leve a possibilidades de reflexão sobre o que se leu.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Essa questão da estética própria é fruto da experiência. A maneira como você constroi um história reflete como você é. Mesmo que seja uma ficção acho que o autor se coloca na trama. A seleção do que dizer e como deve ser dito é muito pessoal. Quando o autor do roteiro é o próprio desenhista isso é mais fácil, embora trabalhar em parceria produza coisas interessantes, pois existe a leitura que o desenhista faz do roteiro e ele pode surpreender, enriquecendo muito o produto final. Como os quadrinhos são constituidos de uma linguagem híbrida (textos verbal e imagético) creio que seus elementos constitutivos precisam dialogar e contribuir de forma eficaz para a construção de uma boa história.

 6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Indentifico-me mais com o Alternativo. Não penso em fazer sucesso com quadrinhos, mas me sentiria feliz se soubesse que pessoas que leram meus quadrinhos foram de alguma forma impactadas.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Sinceramente, tenho dificuldade em responder. O mercado de quadrinhos nacionais não é lá essas coisas. Existem experimentos nos grandes centros e em cidades do nordeste que revelam a força e o talento de nossos desenhistas, mas penso que falta motivação, organização e apoio. A falta de um elemento desse tripé compromente o todo. Mas não sou um grande conhecedor da realidade mercadologica da imprensa nacional para emitir uma opinião mais confiável. Mas nem tudo está perdido e a arte dos quadrinhos teima em não morrer!

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?

No passado não dá pra ignorar o pioneirismo da Maturi (que teve um destaque recente com o projeto apoiado pela Fundação José Augusto que gerou seis edições da revista em um novo formato, inclusive com cores). Não podesmos esquecer do Edmar Viana e seu Pivete. Recentemente tivemos a belíssima Guerreiro das Dunas, de Emanoel Amaral. Nossos arte-finalistas potiguares têm produzido coisas bonitas para a Brado Retumbante. Tem o humor joia do Kovalevsky com o The Negão.  Recentemente o Gabriel tá publicando nos EUA. Claro, é coisa de gringo, mas o talento é da terrinha.
E tem o Brum, carioca radicalizado aqui, que tem feito muita coisas boa na área do quadrinho de humor. É aquela coisa: depois da esperança morrer ainda tem os quadrinhos.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

- Emanoel Amaral – esse é um pioneiro, um guerreiro dos lápis e pincéis. Sua experiência garante a qualidade de sua produção. A temática indígena e do cangaço está bem representada em  suas obras.

- Márcio Coelho – Outro cabra experiente. Uma amostra do reconhecimento do seu talento foi sua convocação para publicar em uma das ediçoes especiais dos estúdios Maurício de Sousa.

- Gilvan Lira – Uma excelente cabeça, um artista maravilhoso e competente. Lê muita coisa de todo lugar. Outro cuja experiência produziu um artista maduro. O cara é muito versátil;  desenha e escreve ficção, humor, aventura e história com a mesma desenvoltura.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


- Tenho uma ou outra história engavetada. Não sobra muito tempo para desenvolvê-las e por enquanto resta apenas a ideia central delas.  

Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário